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30 setembro, 2011

Poemas Fernando Pessoa (Pseudônimos) (6)

Eu agi sempre

Eu agi sempre, Eu agi sempre para dentro, 
eu nunca toquei na vida. 
Nunca soube como se amava, 
Apenas soube como se sonhava amar. 
Se eu gostava de usar anéis de dama nos meus dedos, 
é que às vezes eu queria julgar 
que as minhas mãos eram de princesa. 
Gostava de ver a minha face refletida, 
porque podia sonhar que era a face de outra criatura . 
(Bernardo Soares)



Dever de Sonhar

Eu tenho uma espécie de dever,
dever de sonhar,
de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis.
(Fernando Pessoa)



Todas as Cartas de Amor são Ridículas

Todas as cartas de amor são
       Ridículas.
       Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor, 
       Como as outras,
       Ridículas.
As cartas de amor, se há amor, 
       Têm de ser
       Ridículas.
Mas, afinal,
       Só as criaturas que nunca escreveram 
       Cartas de amor 
       É que são
       Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia 
       Sem dar por isso
       Cartas de amor
       Ridículas.
A verdade é que hoje 
       As minhas memórias 
       Dessas cartas de amor 
       É que são
       Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas, como os sentimentos esdrúxulos,
       São naturalmente Ridículas.)
(Álvaro de Campos)

  

Aniversário 

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
(Álvaro de Campos)



Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
 (Fernando Pessoa)



Para ser grande, sê inteiro

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
(Fernando Pessoa)




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